mãe
Com uma paixão incomparável pelo fado tradicional, Cristina Branco presta uma sentida homenagem a este género musical tão emblemático da cultura portuguesa no seu muito aguardado 18º álbum de originais ‘Mãe’.
‘Mãe’ é uma criação musical única, na qual Cristina Branco empresta a sua voz singular e expressiva a uma variedade de autores, como tem sido a sua tradição artística. Em disco e ao vivo, Mãe oferece ao público um repertório original que nos transporta numa envolvente viagem de redescoberta do fado, explorando as suas profundezas emocionais e as suas nuances.
” Amo o que é eterno no fado, assim me salvo e julgo que por vezes vou ajudando a salvar. Como outros a mim. “ – CRISTINA BRANCO
Cristina Branco apresenta ‘Mãe’
Senhora do Mar Redondo
Passos Certos
Letras
Letra: Lídia Jorge
Música: Alfredo Marceneiro (Fado Cravo)
Senhora do mar redondo
Que rezas hei-de rezar
Tenho filhos tenho pais
Tenho avós que são do mar
Que rezas hei-de rezar
Sem que se ofenda o mar?
Senhora do mar redondo
Que nos deixaste roubar
A redondeza da terra
Que rezas te hei-de rezar
Para que os tragas de volta
Sonhando com o alto mar?
Abre os teus olhos verdes
Estende a tua mão velada
Para que o mar seja casa
Senhora do mar redondo
É nos teus olhos que escondo
As rezas que deito ao mar
Letra: Teresinha Landeiro
Música: Joaquim Campos (Fado Rosita)
Vivo à margem dos meus planos
Não desenho os meus enredos
Não há páginas de enganos
Nem rascunhos dos meus medo
Não me encaixo nos guiões
Nem nas linhas dos romances
Improviso nas paixões
E aos dramas não dou chances
Já fui verso de poesia
E poema do avesso
Hoje sou folha vazia
Que não espera ser começo
Não sou livro por escrever
Nem papel por emendar
Não sou história por viver
Sou a história por contar
Letra: Manuela de Freitas
Música: Bernardo Couto
Não sei que tristeza é esta
Que quando eu canto aparece
Assim como um fim de festa
Ou um prazer que entristece
Talvez um sonho perdido
Uma culpa sem razão
Ou um segredo escondido
Num canto do coração
É branda melancolia
É doçura que magoa
Como a luz ao fim do dia
Nos telhados de Lisboa
É dor pequena e difusa
É um receio qualquer
Como ler uma recusa
Nos olhos de quem se quer
Uma angústia de repente
Ou pena não sei de quem
Ver a morte frente a frente
Ou a vida, não sei bem
Talvez seja a incerteza
Que ponho em tudo o que faço
Talvez não seja tristeza
Talvez apenas cansaço
E dou comigo a pensar
Livrar-me deste tormento
Mas ser do fado é gostar
Desta tristeza que enfrento
Não sei se morta ou se viva
Sei que com esta tristeza
Não sou livre nem cativa
Sou fadista, com certeza
Letra: Teresinha Landeiro
Música: Cristina Branco/Bernardo Couto (Doca de Belém)
Incertos são os passos repetidos
Incertos sem saber andar «
Se sigo por caminhos já vividos
Não sei que passos ficam por pisar
O medo de pisar em chão errado
Leva-me sempre ao avesso
Então tiro os sapatos do passado
Escolho para mim outro começo
Quanto escolho e quanto faço
Certa que fiz tudo quanto quis
Assumir que errei o passo
Sem saber se fui feliz
Letra: Natália Correia
Música: Raúl Ferrão (Fado Carriche)
Nuvens correndo num rio
Quem sabe onde vão parar
Fantasma do meu navio
Não corras vai devagar
Sonhos içados ao vento
Querem estrelas varejar
Velas do meu pensamento
Aonde me quereis levar
Não corras ó meu navio
Navega mais devagar
Que nuvens correndo em rio
Quem sabe onde vão parar
Não corras ó meu navio
Navega mais devagar
Fantasma do meu navio
Não corras vai devagar
Letra: David Mourão-Ferreira
Música: Luís Figueiredo
Era uma noite apressada
Depois de um dia tão lento
Era uma rosa encarnada
Aberta nesse momento.
Era uma boca fechada
Sob a mordaça de um lenço.
Era afinal quase nada,
E tudo parecia imenso!
Imensa a casa perdida
No meio do vendaval;
Imensa a linha da vida
No seu desenho mortal;
Imensa, na despedida,
A certeza do final.
Era uma haste inclinada
Sob o capricho do vento.
Era a minh’alma, dobrada
Dentro do teu pensamento.
Era uma igreja assaltada,
Mas que cheirava a incenso.
Era afinal quase nada,
E tudo parecia imenso!
Imensa, a luz proibida
No centro da catedral;
Imensa, a luz diluída
Além do bem e do mal;
Imensa por toda a vida,
Uma descrença total.
Letra: Fernando Pessoa
Música: Bernardo Moreira (Fado Moreira)
Se estou só, quero não estar
Se não estou, quero estar só,
Enfim, quero sempre estar
Da maneira que não estou.
Ser feliz é ser aquele.
E aquele não é feliz,
Porque pensa dentro dele
E não dentro do que eu quis.
A gente faz o que quer
Daquilo que não é nada,
Mas falha se o não fizer,
Fica perdido na estrada.
Porque penso dentro dele
E não dentro do que eu quis.
Ser feliz é ser aquele.
E aquele não é feliz.
Letra: Teresinha Landeiro
Música: Armando Augusto Salgado Freire (Fado Alexandrino do Estoril)
Poder ser o que quero
Podendo querer ser tudo
Ser tudo o que não espero
Poder escolher se mudo
Escolher mudar o rumo
Ou querer ficar assim
E se eu errar assumo
Ser quem fala por mim
Poder olhar o mundo
Julgar até as flores
Poder respirar fundo
Ter ódios ter rancores
Ter medo de perder
Ter medo da verdade
Ser livre sem saber
É isto a liberdade
Letra: Aldina Duarte
Música: Armando Machado (Fado Santa Lúzia )
Dormi na areia molhada
Mordi na boca salgada
Um beijo roubado ao mar
Um lenço coberto de espuma
Recebia uma a uma
Todas as ondas sem par
Dancei descalça sem frio
Sobre o casco de um navio
A dança das mãos vazias
Eram longos os momentos
Sem a sombra dos lamentos
Sem ter outra companhia
Bate quente o sol nos pés
A brincar como as marés
Dando a volta ao nevoeiro
Esqueço a vida pequenina
Dos meus sonhos de menina
Agarrada ao travesseiro
Abracei as flores vadias
Ao relento em noites frias
Sem ninguém as procurar
Vem de longe o que está perto
Sou a mãe de um céu aberto
No meu corpo à beira-mar
Ficha técnica
Cristina Branco Voz
Bernardo Couto Guitarra Portuguesa
Bernardo Moreira Contrabaixo
Luís Figueiredo Piano
Produção Cristina Branco, Bernardo Couto, Bernardo Moreira, Luís Figueiredo
Gravação, Mistura e Masterização Tiago Gomes de Sousa
Gravado em Abril de 2023 nos Estúdios Valentim de Carvalho, Paço de Arcos.
Produção Executiva Locomotiva Azul – Paulo Sousa Martins, Beatriz Ramirez
Fotografia Augusto Brázio
Maquilhagem Fátima Jardim
Design Artwork André Loureiro